COMO UM OFÍCIO reúne 140 poemas, divididos em duas partes: I. DIÁSPORA: setenta poemas escritos entre 2003 e 2008, organizados em cinco livros-capítulos: PARA MORRER, O FOGO E OUTROS UTENSÍLIOS DA LUZ, EQUINÓCIO DE OUTONO, ORÁCULO e ATAÚDE. II. ANTÍPODA: setenta poemas escritos entre 2013 e 2021, organizados em três livros-capítulos: DISTÚRBIO DO SONO, ÓBICE e ÂNGULO MORTO.


Abro a porta. A soleira é um hiato
que deus não habita.
O chão bate contra a chuva.
Ocorre-me um amarelo de penúria,
dois ou três adjetivos ambíguos,
a extensão subterrânea de necrópoles,
outras geometrias difusas.

Penso no teu corpo
e dói-me tu não seres
a indesejada publicidade
vespertina na caixa de correio,
a mão suspensa
ou a promessa de uma solidão
que soubesse incurável.

A duração do eclipse é ainda
o tempo que nos resta.


COMO UM OFÍCIO [poesia reunida]: Porto, Officium Lectionis, 2021.
ISBN 978-989-8029-78-2
Capa: Gabriel Pacheco