O Japão de Valter Hugo Mãe não se explicita. É um organismo implícito, que converte o espaço e o tempo numa paisagem que – como um cenário do teatro no ou uma estampa [“ukiyo-e”] – se expressa na intimidade que se estabelece entre a representação e a significação, pela reiteração poética.
O Japão de Valter Hugo Mãe não supõe quaisquer preocupações epistemológicas no âmbito da antropologia cultural, nem se deixa constranger pelas limitações inerentes a quaisquer processos de inteligibilidade exógena ou endógena. O seu exotismo emana de um imaginário compósito que não se exaure em idealizações japonistas.
Em HOMENS IMPRUDENTEMENTE POÉTICOS, Valter Hugo Mãe – como os antigos “katari-be” [recitadores] – inventa as palavras-paisagem de uma semântica ritual com a consciência de que podem as palavras inventar pequenas histórias, mas só as grandes histórias inventam palavras.
HOMENS IMPRUDENTEMENTE POÉTICOS é uma intensa paisagem-récita do Japão: uma paisagem-récita telúrica e mítica, como na voz dos antigos “katari-be”, porque quem recita não só narra e declama; quem recita reitera e só o que é reiterado resiste.
O Japão de Valter Hugo Mãe não é fora nem dentro do Japão. Nos rudimentos de uma antropologia da reiteração poética, a inteligibilidade de uma cultura é um âmago coabitado: não uma utopia, mas um reduto que resiste pela reiteração poética do humano.
FURUSATO. O Japão de Valter Hugo Mãe: uma antropologia da reiteração poética: Porto, Officium Lectionis, 2023.
ISBN 978-989-35122-2-7
Capa [e narrativa imagética]: Tomás Guerrero